Tuesday, May 26, 2009

Humana, demasiado humana.

O ar mais quente sobe mais que o ar frio. Isso ocorre, basicamente, porque o ar quente é mais leve que o ar frio - ele tem menos massa por unidade de volume.

Curioso.

Os balões sempre me encantaram.
Talvez por causa da aura de serenidade que eles deixam transparecer - como se, lá do alto, tudo fosse tranquilo e silencioso...
Imagine só ver tudo lá de cima. Como nós parecemos pequenos e o mundo parece tão grande. Olhe pro alto, olhe pro céu, que imensidão além do alcance. Agora olhe pra baixo e veja como tudo ficou ,
como tudo ficou pequeno...

Hahahaha.

Quanta ilusão.
Quanto egoísmo.
Pode tentar subir bem alto, não adianta, lá embaixo as coisas continuam a acontecer.
À medida que o tempo passa em nossas vidas, percebemos que essa é só mais uma pequena porção de ilusão, uma daquelas coisas que passamos a vida inteira acreditando ser verdade até que um dia nos damos conta do que vemos e, finalmente, enxergamos o que há por trás.
E, sim, o tempo continua a urgir. Lá embaixo o mundo está girando - aqui em cima também gira, nós, apenas, não percebemos. O desequilíbrio ainda varre as mentes e as atitudes humanas.
Talvez haja esperança,

talvez não.
E muito provavelmente não, até enquanto restarem homens demasiadamente humanos*.

{Os problemas parecem pequenos aqui de cima - mas só parecem. A verdade é que fugimos deles, afinal, covardia é uma característica muito humana.}

Enfim.

O ar mais quente sobe mais que o ar frio. Isso ocorre, basicamente, porque o ar quente é mais leve que o ar frio - ele tem menos massa por unidade de volume.

Sim, curioso.

Minha cabeça está cheia, posso perceber como está densa, mas, ainda assim, sinto como se ela fosse um grande balão a subir.



* "As pessoas que não podemos suportar procuramos tornar suspeitas", Humano, demasiado humano. Nietzsche. (Aforismo 557) - creio que não suporto mais a humanidade.

Tuesday, May 12, 2009

incubados.

Mais um daqueles dias em que o sol nasce rasgando.

À medida em que se abre os olhos o rasgo se faz - porque, no céu, ele já foi feito, basta perceber os tons de púrpura e variantes que tingem a manhã.
Na fração de segundo em que a pálpebra, pesada, vai se fechando novamente, um fluxo contínuo de de imagens-pensamentos-sensações nos invade, e aquela velha quentura nos enche o peito.

Que brasa.

A quentura também nos rasga - ela é o próprio sol -, a garganta arde e a calma se despedaça. Subseqüentemente, de maneira sutil, vão surgindo os primeiros sintomas de inquietação - pequenos movimentos, leves ou bruscos, semi-conscientes ou invonluntários.

Cançaso.
Preguiça.
A cabeça teima em não se obedecer.

Abrem-se, novamente, os olhos, devagar, enquanto as cores ainda se juntam na visão. Apressadas em se mostrar, acabam se manifestando como borrões. A vista espera, paciente, enquanto o foco tenta se fixar - ele próprio ainda está dormindo.

Uma parte de nós ainda se pergunta o que deve ter havido - como assim? Tudo era estático. Tudo sempre foi estático!

Lêdo engano, próprio de faculdade humana. As coisas sempre mudam, nós é que permanecemos dormindo. Por vezes, porém, despertamos, e acabamos nos dando conta de que não somos o centro de tudo, somos apenas parte - todas as vezes é assim, e isso, talvez, seja a única coisa que não mude. Ainda assim, porém, mais tarde, voltaremos a dormir, como sempre, depois de todo despertar. Voltaremos a dormir, continuando a perpetuar o ciclo entre o intervalo de inconsciência e os flashes de consciência.
O conteúdo muda com o tempo, mas ele é irrelevante: o choque da lucidez é o mesmo, todas as manhãs.

Coragem. É preciso coragem, agora.
Estamos na iminência do baque.
As coisas começam a vir... rápido, mais rápido, à tona!
Tudo é luz intensa, tudo arde, tudo queima.
Dói.
De repente, tudo faz-se claro e banal.

Sim, é mais um daqueles dias que a gente tem que acordar.
Ah, picardia.

Wednesday, May 06, 2009

é estranho.

A finalidade usual de se escrever em um blog é - ressalte-se o "usual" - passar um pouco do que sentimos em uma fração de tempo qualquer - mês, dia, ano, minuto - seja do modo que for - direta ou indiretamente. O certo é que deixamos transparecer o que somos ou o que sentimos talvez - ou melhor, precisamente - pela condição humana que temos - ou que nos encontramos: vai saber?

Faça-se entender que o "somos ou sentimos" destacado acima refere-se tanto às impressões externadas por outros entes, tão complexos quanto nós, que entendem o que somos pelo que sentimos, ou o que, pra eles, parecemos sentir, quanto ao fato de nós mesmos entedermos o que somos pelo que sentimos. A verdade - ou pelo menos o que eu acho que ela é - é que eu me enquadro nesse tipo. Eu sou o que sinto, ainda que externamente eu não o seja. Eu definitivamente sou o que sinto, ainda que só o sinta por esse segundo. Na realidade eu sou um sentimento a cada instante, ainda que seja o mesmo sentimento perpetuado por várias porções de tempo adimensionais - como poderia, eu, medir tal tempo do que sou, se esta quantidade de tempo é incerta a cada momento? Elas (as porções de tempo) mudam em pulsos imprecisos - às vezes maiores, às vezes menores. O fato é que sou, ainda que o próprio tempo não exista.

(Somos esse histórico de sentimentos aglomerados, fotografados em impressões a cada momento. E mais! Mudamos, ainda, de pessoa pra pessoa, das pessoas pra nós mesmos, e de nós mesmos para com nós mesmos.)

Sendo, eu, o que sinto, peguei-me agora em susto. Vim até aqui pra dizer algo, um algo qualquer que seja, mas o que ocorre é que não o sei! Mas não o sei não por falta de assunto, e sim por falta de sentimento. Se ao escrever deixamos transparecer o que sentimos, encontrei-me em situação de não saber o que escrever por nada sentir. Acabei de me encontrar em estado de dormência - pior ainda: descobri que nada sou, nesse instante, por nada sentir.

Até quando essa porção de tempo se perpetuará?