Tuesday, May 12, 2009

incubados.

Mais um daqueles dias em que o sol nasce rasgando.

À medida em que se abre os olhos o rasgo se faz - porque, no céu, ele já foi feito, basta perceber os tons de púrpura e variantes que tingem a manhã.
Na fração de segundo em que a pálpebra, pesada, vai se fechando novamente, um fluxo contínuo de de imagens-pensamentos-sensações nos invade, e aquela velha quentura nos enche o peito.

Que brasa.

A quentura também nos rasga - ela é o próprio sol -, a garganta arde e a calma se despedaça. Subseqüentemente, de maneira sutil, vão surgindo os primeiros sintomas de inquietação - pequenos movimentos, leves ou bruscos, semi-conscientes ou invonluntários.

Cançaso.
Preguiça.
A cabeça teima em não se obedecer.

Abrem-se, novamente, os olhos, devagar, enquanto as cores ainda se juntam na visão. Apressadas em se mostrar, acabam se manifestando como borrões. A vista espera, paciente, enquanto o foco tenta se fixar - ele próprio ainda está dormindo.

Uma parte de nós ainda se pergunta o que deve ter havido - como assim? Tudo era estático. Tudo sempre foi estático!

Lêdo engano, próprio de faculdade humana. As coisas sempre mudam, nós é que permanecemos dormindo. Por vezes, porém, despertamos, e acabamos nos dando conta de que não somos o centro de tudo, somos apenas parte - todas as vezes é assim, e isso, talvez, seja a única coisa que não mude. Ainda assim, porém, mais tarde, voltaremos a dormir, como sempre, depois de todo despertar. Voltaremos a dormir, continuando a perpetuar o ciclo entre o intervalo de inconsciência e os flashes de consciência.
O conteúdo muda com o tempo, mas ele é irrelevante: o choque da lucidez é o mesmo, todas as manhãs.

Coragem. É preciso coragem, agora.
Estamos na iminência do baque.
As coisas começam a vir... rápido, mais rápido, à tona!
Tudo é luz intensa, tudo arde, tudo queima.
Dói.
De repente, tudo faz-se claro e banal.

Sim, é mais um daqueles dias que a gente tem que acordar.
Ah, picardia.

3 comments:

clarissa said...

eu lendo agora parecia que tudo tava passando como quadrinhos na mente, saca? chega deu um certo medo de abrir os olhos e ver mais do que eu via antes...

Jean said...

Ah picardia!

Priscila said...

Eu também pude ver os quadrinhos.