Wednesday, May 06, 2009

é estranho.

A finalidade usual de se escrever em um blog é - ressalte-se o "usual" - passar um pouco do que sentimos em uma fração de tempo qualquer - mês, dia, ano, minuto - seja do modo que for - direta ou indiretamente. O certo é que deixamos transparecer o que somos ou o que sentimos talvez - ou melhor, precisamente - pela condição humana que temos - ou que nos encontramos: vai saber?

Faça-se entender que o "somos ou sentimos" destacado acima refere-se tanto às impressões externadas por outros entes, tão complexos quanto nós, que entendem o que somos pelo que sentimos, ou o que, pra eles, parecemos sentir, quanto ao fato de nós mesmos entedermos o que somos pelo que sentimos. A verdade - ou pelo menos o que eu acho que ela é - é que eu me enquadro nesse tipo. Eu sou o que sinto, ainda que externamente eu não o seja. Eu definitivamente sou o que sinto, ainda que só o sinta por esse segundo. Na realidade eu sou um sentimento a cada instante, ainda que seja o mesmo sentimento perpetuado por várias porções de tempo adimensionais - como poderia, eu, medir tal tempo do que sou, se esta quantidade de tempo é incerta a cada momento? Elas (as porções de tempo) mudam em pulsos imprecisos - às vezes maiores, às vezes menores. O fato é que sou, ainda que o próprio tempo não exista.

(Somos esse histórico de sentimentos aglomerados, fotografados em impressões a cada momento. E mais! Mudamos, ainda, de pessoa pra pessoa, das pessoas pra nós mesmos, e de nós mesmos para com nós mesmos.)

Sendo, eu, o que sinto, peguei-me agora em susto. Vim até aqui pra dizer algo, um algo qualquer que seja, mas o que ocorre é que não o sei! Mas não o sei não por falta de assunto, e sim por falta de sentimento. Se ao escrever deixamos transparecer o que sentimos, encontrei-me em situação de não saber o que escrever por nada sentir. Acabei de me encontrar em estado de dormência - pior ainda: descobri que nada sou, nesse instante, por nada sentir.

Até quando essa porção de tempo se perpetuará?

4 comments:

Amanda Bezerra said...

Estranho é nós duas sentirmos nada no mesmo dia. Inclusive, pelo não saber o que escrever e, ao mesmo tempo, querer escrever tudo, Arnaldo Antunes falou e escreveu tudo por mim. Através da música Socorro. Ontem pela manhã eu estava me sentindo assim. Foi quando eu percebi que eu não estava sentindo nada, mas sim o nada. E comecei a pensar no vazio da minha vida, dos meus pensamentos, das minhas ações, do curso que eu escolhi estudar etc. Tudo estava desencantando para mim. Eu, que pensava ser completamente realista (como na música do Oasis "I don't believe in magic,life is automatic ") , percebi como valorizo os sonhos. E, talvez por eu ter passado tanto tempo ignorando-os dentro de mim, eu tenha acreditado na minha própria mentira. Talvez este momento que estou passando de completo vazio seja pela realidade ser tão cruel a ponto de destruir meus sonhos. E todos os dias eu estou sentindo o escorrer deles por entre meus dedos ou até mesmo sendo vomitados (com direito a depressão depois de passar tão mal). Mas depois de tanto "sentir nada" eu ri muito com vocês na federal. Ri de verdade. Esse simples acontecimento foi o despertar do meu transe para o que disse Fernando Pessoa em A Tabacaria. Fui, inclusive, mais do que cliche!

risoflora. said...

"socorro, não estou sentindo nada
nem medo, nem calor, nem fogo
nem vontade de chorar, nem de rir."

eu acredito em sintonia!

mas foste, inclusive, mais do que precisa - tu entendeu de verdade o que eu quis dizer.

Unknown said...

foi por não sentir nada que tu acabou por sentir alguma coisa: "nada". e logo passou a existir!
Seja bem-vinda(acho o uso do hífen imprescindível e fodam-se as regras que tentem mem privar dele, rum!)!!! "=D

Priscila said...

Sentir o nada "é estranho" mesmo. Mas nessa dormência de sentimentos a gente aguça sentidos essenciais para encarar o mundo. Ser dormente às vezes é tão inevitável quanto necessário, entende? Para se sobreviver a determinadas coisas. Acredite, sentir o nada não é coisa pra qualquer um. É pra quem sabe bem como a existência deveria ser bem mais. E por isso espero que entenda quando digo: fico feliz que isso lhe aconteça. De certo, te fará mais forte.